domingo, 30 de outubro de 2011

Represa da morte continua fazendo vítimas em Arujá

Cada ano que passa aumenta número de freqüentadores da lagoa, inclusive moradores de Guarulhos, Santa Isabel e Itaquaquecetuba. 

Domingo, dia 24 de outubro, três horas da tarde, horário de verão. Os termômetros batem nos 30 graus, mas a sensação é que está mais quente. Fora as famílias que estão abrigadas em barracas improvisadas com lona, ou os que estão escondidos embaixo de árvores, os sol escaldante queima o rosto e a pele de dezenas de “turistas” que estão na água ou na borda da “represa” da Penhinha, em Arujá. Famílias inteiras se refrescam na água fria da represa, são pais, filhos, netos, sobrinhos e amigos. Enquanto os mais velhos tomam conta do churrasquinho, muitos adultos e jovens seguram latas de cerveja na mão, outros bebem cachaça pura, outros ingerem a ‘maldita’ em forma de caipirinha, uns estão visivelmente bêbados com a voz pastosa. As ruas laterais de terra da “represa” estão tomadas pelos carros dos visitantes, carros velhos e também novos. Carros com chapa de Guarulhos, de Santa Isabel, de Arujá e de Itaquaquecetuba.  Rapazes de sunga e moças de biquíni compõem o cenário de praia de água doce. Conhecida pelos freqüentadores como “represa da Penhinha”, a lagoa de grandes proporções situada no bairro Penhinha na divisa com o São Domingos, bairros da zona rural de Arujá quase na divisa com Santa Isabel, continua fazendo vítimas por afogamento. “Todo ano no verão é a mesma coisa, morrem cerca de três a 10 pessoas afogadas no local, ou por abuso, pois a maioria não sabe nadar, ou por estarem alcoolizados. No ano passado morreu dois no mesmo dia num sábado”, disse um caseiro que reside próximo ao local e que não quis se identificar. Segundo os próprios freqüentadores a “represa” é grande e muito funda e de uma margem à outra é longe, mesmo assim rapazes insistem em atravessar para o outro lado quando ocorre o afogamento, muitos relacionados à cãibra ou devido ao excesso de álcool.





Efeito de bebida alcoólica e mortes na lagoa não intimidam freqüentadores

No domingo, 24 de outubro, a reportagem conversou com algumas pessoas que nadavam no local. Ricardo Nascimento Silva, 25 anos, morador de Itaquá, estava acompanhado de um amigo e mais três moças de biquíni, e confessou que já tinha tomado algumas latas de cerveja. Ele disse que freqüenta sempre o local em fim de semana de sol quente, “a água da ‘represa’ é limpa e o local é agradável”. Questionado se não era perigoso ou se sabia de algumas mortes ocorridas ali, respondeu: “É perigoso pra quem abusa, o que não é meu caso, uma cervejinha não altera em nada”, disse o jovem, acrescentando que “já ouviu falar de várias mortes na represa”. Uma das amigas do Ricardo, a babá Camila Cristina Gomes, 20 anos, trajando biquíni, disse que uma vez quase morreu afogada quando subiu numa prancha de isopor que se partiu. “Se não fossem meus amigos que me tiraram da água, certamente teria morrido afogada, não sei nadar”, disse a jovem. Outro jovem, Fernando Alves, 23 anos, morador do bairro Mirante em Arujá, relatou que no ano passado viu quando um motorista bêbado com a esposa do lado caiu com o carro dentro da represa. “Ele foi manobrar pra ir embora e o carro caiu dentro da represa. Felizmente foi na parte rasa, depois com uma corda amarrado em um caminhão puxaram o carro pra fora”, disse o rapaz, que acrescentou ter visto há alguns anos duas mortes na represa. “Os bombeiros vieram, tiraram os corpos e deixaram na beira da represa dentro de um saco, pro IML vim buscar”.  Dona de um modesto bar que fica a cerca de 150 metros da represa, Aparecida Ferreira da Silva, 60 anos, falou com a reportagem. A comerciante disse que os freqüentadores da “represa” não consomem no seu bar por seu estabelecimento ser um pouco escondido, mas principalmente por eles já trazerem tudo de casa, lanche, comida e principalmente bebida alcoólica. “A lagoa não é que nem praia que tem salva-vidas, não tem segurança nenhuma, é um perigo e a turma ainda enche a cara de pinga, aí morre mesmo”, falou a comerciante.



Rapaz, com sinal de embriagues segura lata de cerveja na beira da represa. Aos fundos, casal se beija dentro da água

A primeira foi à última vez

O dia, 18 de agosto, sábado de sol. O ano era de 2007. Os amigos chegaram e convidaram o jovem Silvano Antonio Alves Júnior, então com 21 anos para um passeio. Ele morava no Parque Rodrigo Barreto, na Rua Dois. Segundo o pai, Silvano Antonio Alves, 50 anos, que tem o mesmo nome do filho, Júnior nunca tinha ido nadar na represa, a primeira vez também foi à última. Até hoje os familiares não sabem a verdadeira circunstância em que ocorreu o afogamento do Silvano Júnior. “Os amigos falaram que ele tentou atravessar a represa”. O pai acrescentou ainda que seu filho nadava pouco e que não bebia, se referindo a bebida alcoólica. “Os bombeiros só acharam o corpo dele no outro dia”. “Eu também costumava nadar na represa de vez em quando, depois que meu filho morreu afogado, nunca mais pus meus pés lá”. Silvano diz que o local é muito perigoso e aconselha os jovens a não nadar lá.

A notícia chegou às 18 horas, estava todo mundo desesperado

“No domingo (horário de verão) de 2009 fizemos um churrasco aqui em casa, era aniversário de 18 anos de minha filha mais nova, a festa começou às 11 da manhã”, conta Maria Amélia Grande de Souza, de 49 anos, moradora de Itaquaquecetuba. “Meu filho Edson (Edson Aparecido Grande da Rocha) de 21 anos, em companhia dos amigos bebeu bastante cerveja durante o dia. De tardezinha não sei quem teve a idéia de ir para a represa em Arujá. Foram vários rapazes e meninas em dois carros. A notícia chegou às 18 horas, estava todo mundo desesperado, meu filho Edson tinha morrido afogado. O pior é que nem os amigos perceberam, quando deram falta dele, ele já estava morto. Segundo os amigos, logo encontraram o corpo dele numa parte rasa da represa. Em novembro agora (de 2011) vai completar dois anos da morte dele. Só agora estou um pouco mais conformada. O pior é que os amigos de meu filho continuam até hoje indo nessa maldita represa, deviam proibir as pessoas de nadar lá, pois todo ano tem notícia de morte na lagoa, geralmente de jovens”, alertou a dona de casa.  

“Ele afundou duas vezes, se não estivesse bêbado não teria morrido”

“Apesar de não gostar de falar, a família sabe que ele bebia muito, que era alcoólatra, se não estivesse bêbado não teria morrido afogado, pois ele nadava muito bem. Eu e os amigos falamos pra ele não entrar na água, mas não teve jeito, ele foi pro meio da represa e afundou umas duas vezes e não voltou mais”. O depoimento é do Marcelo Pacheco Soares Silva, 23 anos, primo da vítima. Segundo Marcelo, seu primo Fernando (conhecido por Fê), morreu com 29 anos no verão de 2009. Marcelo informou que na época da tragédia a família do falecido morava no Parque Rodrigo Barreto, hoje eles residem em São José dos Campos. Marcelinho disse ainda que depois que seu primo morreu afogado (foi num domingo, o corpo só foi achado na segunda pelos bombeiros) ele voltou na represa algumas vezes, mas hoje não freqüenta mais, pois toda vez se lembrava do primo se afogando. Marcelinho também ficava incomodado vendo tantos jovens bebendo e nadando, inclusive na parte funda da lagoa. “A água lá é traiçoeira, é muito perigoso e as pessoas abusam, depois que acontece uma tragédia é a família que sofre, a prefeitura devia fechar aquilo lá”, disse o jovem.             

4 comentários:

  1. Entrei nesse site para descobrir onde fica a represa de Joanópolis. Depois de conferir esses 3 depoimentos acima decidi não falar pra meu marido, pois ele ama pescaria e eu tenho medo apesar dele não beber nada de alcool.
    Obrigada.

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  2. Cussão do caralho eu sempre fui nesta represa em Arujá quando era criança é muito bom, só se fode quem é loco o suficiente pra encher a cara e pular na água bêbado tem que se fude mesmo, coloca o endereço ai faz muito tempo não lembro mais como chegar ai...

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  3. Meu irmão morreu afogado nessa represa em 1986, na época ele tinha 12 anos, ele falou para minha mãe que iria brincar na casa de um amigo que morava umas duas ruas acima da nossa casa, minha mãe estava fazendo um bolo e coisas para um aniversário surpresa para um amigo do meu tio, tivemos uma triste surpresa, quando fomos para casa e ele não aparecia fomos na casa desse amigo e ele não estava lá, um outro amigo de meu irmão que disse que meu irmão havia ido para a represa, sempre íamos com meu pai quando ele folgava aos finais de semana.
    Infelizmente meu irmão não esperou e foi escondido, ele era um menino que nunca havia saído escondido, ele morreu 09 horas da manhã de sábado, seu corpo foi encontrado 00 horas do domingo.
    Até hoje não sabemos ao certo o que aconteceu, porque os meninos que estavam com ele não assumiram que estiveram com ele porque também foram escondido.
    Enfim tomem cuidado quem for, porque pra quem morre acaba ali mas pra quem fica a dor nunca sara, eu tinha 8 anos na época hoje tenho 42 porém nunca me esqueço do que aconteceu.
    Minha mãe tem vários problemas de saúde e acredito que foi desencadeado devido a perda do meu irmão.

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